Agora este é meu país favorito no mundo!

O ano de 2024 mal havia começado quando, em 9 de janeiro, a BBC anunciou que 2023 foi oficialmente o ano mais quente registrado. Um novo recorde diário de temperatura global foi estabelecido em mais de 200 dias no ano passado, de acordo com a análise da BBC dos dados coletados pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus.

Para o Dr. Fernando Rafael De Grande, como para muitos outros cientistas ambientais, essa confirmação não foi surpresa. Fernando tem estudado o impacto do aumento da temperatura na delicada linha costeira de manguezais do Brasil por algum tempo, mas passou o ano de 2023 trabalhando em Edimburgo com cientistas do Centro de Ciências de Conservação e Restauração (CCRS) da Universidade Napier de Edimburgo.

‘O Centro é liderado pela Professora Karen Diele na Universidade Napier, que também trabalha e publica sobre o ambiente de manguezal do Brasil, então eu já estava familiarizado com seu trabalho há algum tempo’, explica Fernando, que fez sua graduação inicialmente na Universidade Estadual de São Paulo e agora é pesquisador pós-doutorado no Instituto de Ciências Marinhas, Universidade Federal de São Paulo (IMar/UNIFESP), em Santos.

‘Eu estava ansioso para expandir minha pesquisa, adotar uma abordagem mais global e queria melhorar meu inglês, então solicitei ao governo brasileiro o patrocínio de uma oportunidade de trabalhar com a Professora Diele aqui na Escócia.’ A reputação internacional da Universidade Napier em pesquisa de manguezais foi essencial para atender às condições de financiamento estabelecidas pelo governo brasileiro, que concordou em patrocinar sua bolsa.

No último ano, a pesquisa de Fernando na Napier concentrou-se na produção de uma meta-análise e revisão sistemática da literatura, para avaliar onde e em que medida as temperaturas mais quentes provavelmente afetarão a produção de fauna de mangue ao redor do mundo.

‘É difícil testar o impacto do aumento da temperatura no campo’, explica ele, ‘então eu compilei resultados publicados de experimentos laboratoriais de todo o mundo, incluindo muitas espécies diferentes, e descobri que, sim, o aumento de temperatura devido às mudanças climáticas pode afetar negativamente a fauna de manguezais, o que, por sua vez, poderia impactar as florestas de mangue, dada a importante função ecológica desses animais. Muitas espécies animais incluídas em nosso estudo crescem e se reproduzem menos em temperaturas mais altas. Esse impacto poderá ser especialmente pronunciado no Indo-Pacífico Central e Indo-Pacífico Ocidental. Estou ansioso para em breve submeter os resultados de nosso trabalho a um jornal científico para publicação, junto com Karen e meus supervisores brasileiros.’

Refletindo sobre seus 12 meses em Edimburgo, pouco antes de retornar ao Brasil em 13 de janeiro, Fernando disse: ‘A equipe da Karen no Centro tem uma reputação internacional por seu trabalho, e ela publicou pesquisas globalmente significativas em muitos artigos, então eu me beneficiei diretamente dessa experiência. A Napier também tem uma boa infraestrutura de pesquisa, incluindo laboratórios e equipamentos para pesquisa marinha. Também fiquei impressionado com os outros laboratórios da universidade.

‘O CCRS funciona como um grupo interdisciplinar, e isso foi uma experiência totalmente nova e muito boa para mim. Aprendi como trabalhar nesse tipo de ambiente de pesquisa, com colegas de disciplinas diversas, produzindo pesquisas valiosas juntamente com eles. Outros alunos de Biologia Marinha da Karen trabalham na Escócia, e pude interagir com eles e discutir nossas áreas de pesquisa individuais, o que também foi muito interessante e produtivo.

‘Meu tempo aqui também melhorou muito meu inglês, como eu esperava. Como acadêmico, posso ler e escrever em inglês, mas viver aqui ajudou muito minha conversação.

‘Para pessoas dos trópicos, como eu, a Escócia é muito diferente e tem uma paisagem muito bonita. Eu amei a Escócia, e as pessoas em Edimburgo foram muito amigáveis. É uma cidade linda, com uma arquitetura maravilhosa e a cultura aqui é incrível. Há bons museus gratuitos e, é claro, o castelo no centro da cidade! É muito diferente de São Paulo.

‘Também viajei pela Escócia durante meu tempo aqui, como por exemplo, para Fort William, Glasgow, Inverness e St Andrews. Talvez agora este seja meu país favorito do mundo!

Embora esteja retornando para continuar sua pesquisa de pós-doutorado em São Paulo, Fernando continuará colaborando com o CCRS no futuro. Ele já foi convidado a trabalhar e co-autor dois artigos com Karen e colegas do Centro e diz: ‘Já começamos a planejar algumas novas e empolgantes pesquisas conjuntas aqui no Brasil também, e o trabalho de campo para isso já começará em algumas semanas.’

‘Estou otimista de que posso aplicar nossa pesquisa quando voltar ao Brasil, para melhorar a gestão e conservação dos manguezais no Brasil e em outras regiões do mundo.

A pesquisa desenvolvida pelo Fernando foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, processo n° 2022/12556-2.

Maybe now this is my favourite country in the world!

2024 had barely begun when, on 9 January, the BBC announced that 2023 was officially the warmest year on record. A new daily global temperature record had been set on more than 200 days last year, according to analysis by the BBC of data gathered by the Copernicus Climate Change Service.

For Dr Fernando Rafael De Grande, like many other environmental scientists, this confirmation came as no surprise. Fernando has been studying the impact of warming temperature on Brazil’s delicate mangrove coastline for some time, but he spent 2023 working in Edinburgh with scientists from the Centre for Conservation and Restoration Science (CCRS) at Edinburgh Napier University.

‘The Centre is led by Professor Karen Diele at Edinburgh Napier, who also works and publishes on Brazil’s mangrove environment, so I have been familiar with her work for some time,’ explains Fernando, who studied his initial degree at São Paulo State University and is now a post-doc Research Fellow at the  Institute of Marine Science, Federal University of São Paulo (IMar/UNIFESP), Santos, Universidade Federal de São Paulo.

‘I was keen to expand my research, to take a more global approach – and wanted to improve my English – so I applied to the Brazilian government to sponsor an opportunity to work with Professor Diele here in Scotland.’ Edinburgh Napier’s international reputation for mangrove research was essential to satisfy the funding conditions set by the Brazilian government, which agreed to sponsor his fellowship.

For the past year, Fernando’s research at Napier has focussed on producing a meta-analysis and systematic literature review, to assess where and how much warmer temperatures will likely impact mangrove fauna production around the globe.

‘It is difficult to test the impact of temperature increase in the field’, he explains, ‘so I have collated published results from lab experiments from around the world, including many different species, and have found that, yes, increasing temperatures due to climate change can negatively affect mangrove fauna, which in turn could impact the mangrove forests themselves, given the animals’ important ecological roles. Many animal species included in our study grow and reproduce less under increased temperatures. This impact is expected to become particularly acute in the Indo-Pacific and western Pacific. I am now looking forward to soon submit the results of our work to a scientific journal for publication, together with Karen and my Brazilian supervisors.

Reflecting on his 12 months in Edinburgh, just before his return to Brazil on 13 January, Fernando said: ‘Karen’s team in the Centre have an international reputation for their work, and she has published globally significant research in many papers, so I have benefited directly from that [expertise]. Napier also has a good research infrastructure, nice labs and equipment for marine research, and I have been equally impressed by the other science labs at the university.

‘CCRS works as an interdisciplinary group, and that has been a totally new and very good experience for me. I have learned how to work in this type of research environment, with colleagues from diverse disciplines, doing and publishing valuable research together. Other Marine Biology students off Karen work in Scotland, and I have been able to interact with them and discuss our areas of individual research, and that too has been very interesting and productive.

‘My time here has also much improved my English, as I’d hoped. As an academic, I can read and write in English, but living here has greatly helped my conversational English.

‘For people from the tropics, like me, Scotland is very different and has a very beautiful landscape. I have loved Scotland, and the people in Edinburgh have been very friendly. It’s a beautiful city with wonderful architecture and the culture here is amazing. There are good free museums, and of course the castle at the centre of the city! It is very different from San Paulo.

‘I’ve also travelled around Scotland during my time here, to Fort William, Glasgow, Inverness, and St Andrews. Maybe now this is my favourite country in the world!

Although now returning to continue his postdoctoral research Fellowship in São Paulo, Fernando will continue to collaborate with CCRS into the future. He has already been invited to work on and co-author two papers with Karen and colleagues from the Centre and says ‘We already started to plan some exciting new joint research work here in Brazil also, and field work for this will already kick off in a few weeks.’

‘I am optimistic that I can apply our research when I return to Brazil, to improve mangrove management and conservation in this region of the world. Our research is relevant not only for Brazil, but also for other countries with mangrove environments.’

frdegrande@gmail.com

Funding was provided by a FAPESP research grant No. 2022/12556-2.